"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!". Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?

Friedrich Nietzsche, "Eterno Retorno", A Gaia Ciência

domingo, 27 de maio de 2012

ARQUITETURA I . EDIFÍCIO DA BIENAL

EDIFICIO DA BIENAL . OSCAR NIEMEYER . SÃO PAULO SETEMBRO 2010 . FOTOGRAFIAS DE FILIPE DOS SANTOS BARROCAS

quinta-feira, 8 de março de 2012

DIVULGAÇÃO I . COLABORAÇÃO NA EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL DE GABRIEL BRITO NUNES

EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL DE GABRIEL BRITO NUNES NO MAC USP . SÃO PAULO . MARÇO 2012 . MOSAICO DE PASSAGENS DA VIDA DE GABRIEL DE FILIPE DOS SANTOS BARROCAS

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

FILIPE DOS SANTOS BARROCAS NO EXHIBITION DE CLAUDIA MÜLLER

http://www.claudiamuller.com/exhibition.htm

http://vimeo.com/29930500

terça-feira, 15 de novembro de 2011

PEQUENAS ESTÓRIAS VI . INTRUÇÕES BÁSICAS PARA A AMPUTAÇÃO DE MEMBROS DO CORPO COMO RESPOSTA À NÃO RECIPROCIDADE AMOROSA – PARTE 01

Acorde e disponibilize-se a sentir o que esta manhã lhe trouxe. Concentre a sua atenção nos sons que advêm de fora da janela, nos sons do interior do quarto e nos sons do seu interior. Oiça e sinta. Caso:

1. os pássaros chilreiem lá fora numa melodia única e inspiradora. Levante-se, tome banho, vista-se e saia de casa, tome o café da manhã no exterior;

2. alguém toque à sua campainha carregando ingredientes frescos comprados na feira e se ofereça para cozinhar para si. Levante-se, receba-o com carinho, sirva-lhe do seu melhor vinho enquanto for tomar banho, vista-se e ofereça-se para ser o melhor assistente de cozinha que possa ser ou, caso o artista plástico seu companheiro de casa abra a porta do seu quarto, acordando-o ou não, e o convide para passar o dia a pintar a óleo. Levante-se, receba-o com um abraço caloroso, tome banho, vista-se e encontre-o na sala. Vá disponível para passar o dia a estender essa pasta oleosa mesmo que, acreditando que com esse gesto desvende a imagem que abrirá o caminho para a compreensão dos segredos do universo, só consiga passar o tempo a acompanhar os movimentos de uma velha senhora, vestida com uma capa, à chuva, sob a luz de um candeeiro de rua.

3. a voz no seu interior se sobreponha ao chilrear dos pássaros, ao tom do toque da campainha da porta da rua, ou ao som do ranger da maçaneta da porta do seu quarto. Você sabe o que tem de fazer. Levante-se e cumprimente cordialmente o seu companheiro de casa agradecendo-lhe o convite mas diga-lhe que já tem planos para hoje, deixe a campainha tocar e ignore o chilrear dos pássaros. Levante-se, caminhe até junto da janela e abra-a o máximo que conseguir, vá agora até às janelas da sala e da cozinha e efectue a mesma acção e retorne ao seu quarto trazendo uma cadeira. Deixe a porta aberta, posicione a cadeira no centro do espaço, abra o armário e retire do seu interior o cordel de corda resistente que seu amigo lhe trouxe do nordeste do Brasil. Amarre a corda ao seu braço, no pulso ou no ombro, na junção entre o úmero e a escápula, amarre a outra extremidade da corda à maçaneta da porta conferindo a distância, se necessário corte um pedaço, não vai querer que fique frouxa no momento, sente-se e espere. Abrace a espera, a qualquer momento virá uma corrente de ar, a porta se fechará e sentirá uma sensação de alívio.

Respeito a Julio Cortázar. Texto inspirado nos manuais de instruções das histórias de cronópios e famas do escritor argentino, escritos em Roma e Paris entre 1952 e 1959, publicado pela primeira vez em 1962.

Filipe dos Santos Barrocas . 15 . 11 . 2011 . São Paulo

domingo, 13 de novembro de 2011

PEQUENAS ESTÓRIAS V . O HOMEM QUE NUNCA FOI

Certo dia apercebo-me que não continuo a ser o que até então sinto ter sido.
 
Num primeiro instante a estranheza dessa presença, num segundo, a familiaridade de um reencontro. Por fim a aceitação. 

 
Recebo-me de abraços e encontro-me na tua ausência. Revejo-me e me reencontro. Sou um parente distante reencontrado, acolhido e estranhado.

 
Este corpo já não me serve. As fibras cedem, os vasos dilatam e a massa retrai comprimindo a alma. Ilusão é acreditar que se pode viver no mesmo corpo a vida inteira.

 
Apego-me, desapego-me, saio, flutuo, reencontro e volto a apegar-me.

 
Errado não é apegar-me, é não saber quando me devo desapegar, até que esse momento chegue já me perdi um pouco.

 
É do conhecimento comum que a parte da alma que excede e flui pelos poros da pele, seja por ter crescido demasiado ou por o corpo diminuir, ao se separar da maior parte transforma-se em água. Não existem almas completas e os rios transbordam.

 
Aceito-me na minha incompletude.


Reconheço o que me alimenta em ti, é o mesmo que me consome, o que é servido na nossa mesa é parte de mim.
 

Apego-me, abraço-me, desapego-me, despeço-me e saio.
 

Amo-te.

murdering tripping blues . knocking at the backdoor music . man that never was . lisboa . 2008





Filipe dos Santos Barrocas . 10:00 . 13 . 11 . 2011 . São Paulo

domingo, 23 de outubro de 2011

OS GIDIÕES

"Os GIDIÕES INTERNACIONAIS são uma Associação de Homens de Negócios e Profissionais de Diversas Categorias, cristãos, unidos para serviço e companheirismo , em mais de 170 países. A finalidade da Associação é tornar conhecido o Evangelho de Cristo em todo o mundo, a fim de que todos cheguem a conhecer o Senhor Jesus como seu Salvador pessoal.


Com a ajuda de muitos amigos cristãos de diferentes igrejas, os Gidiões têm distribuído mais de 800 milhões  de Bíblias e Novos Testamentos em hotéis, motéis, hospitais, instituições penais, entre as forças armadas, estudantes e enfermeiras.


Deus promete abençoar a sua Palavra a fim de dar fruto para sua honra e glória. Os Gidiões têm visto muitas evidências das bênçãos de Deus sobre esse trabalho. e sabem que Ele cumpre a sua promessa. É nossa oração sincera que o leitor ao ler e mediar neste Livro Maravilhoso de Deus, encontrará a instrução e bênção de que necessita.   


A Bíblia contém a mente de Deus, a condição do homem, o caminho da salvação, a condenação dos pecadores, e a felicidade dos cristãos. Suas doutrinas são santas, seus preceitos são justos, suas histórias verdadeiras e suas decisões imutáveis. Leia-a para ser sábio, creia nela para estar seguro e pratique-a para ser santo. Ela contém luz para dirigi-lo, alimento para sustê-lo, e consolo para animá-lo. 


É o mapa do viajante, o cajado do peregrino, a bússola do piloto, a espada do soldado e o guia do cristão. Para ela o paraíso é restaurando, os céus abertos e as portas do inferno descobertas.


Cristo é o seu grande tema, nosso bem o seu intento, e a glória de Deus a sua finalidade. Deve encher a mente, governar o coração e guiar os pés. Leia-a lenta e frequentemente e em oração. É uma mina de riqueza, um paraíso de glória e um rio de prazer. É-lhe dada em vida, será aberta no dia do julgamento e lembrada para sempre. Ela envolve a mais alta responsabilidade, recompensará o mais árduo labor e condenará a todos quantos menos prezem seu sagrado conteúdo."


NOVO TESTAMENTO, SALMOS E PROVÉRBIOS
SÃO PAULO, CAMPINAS

segunda-feira, 4 de julho de 2011

PROJECTO NUNES

NUNES NO ESTADÃO . SÃO PAULO . JUNHO 2011 . FOTOGRAFIAS DE FILIPE DOS SANTOS BARROCAS
Como existir pessoalmente se não se pode fazê-lo sozinho?     
Gilles Deleuze em A Imagem-tempo


Projeto NUNES é um projeto performático no sentido de que afirma uma relação direta com a vida enquanto age na vida.


Projeto NUNES põe a atitude cotidiana do corpo no prisma da performatividade, através do disfarce do grotesco e glorioso corpo do NUNES, a fim de fazer com que só a presença e não mais o corpo visível do performer permaneça.


Projeto NUNES imbui de subjetividade o objeto do corpo performático. NUNES, ao contrário de uma personagem, desenvolve-se a partir da teatralização direta das atitudes de mudança de seu corpo no cotidiano, independentemente de um papel pré-determinado.


Projeto NUNES busca pelo corpo, não mais por intermédio do corpo, uma conexão maior do pensamento com a vida e propõe, como na vida, um desenvolvimento do projeto distante da dualidade processo/trabalho final. As formas de exposição (de saída formal e estética) do  Projeto NUNES se revelam a partir do seu desenrolar e das relações de inter-subjetividade por ele despertadas.

Duas formas de pensamento de duas outras pessoas se incluem nesse momento no projeto: as relações do trabalho fotográfico de Filipe Barrocas e do trabalho de ilustração de Vânia Medeiros com o NUNES.


No Projeto NUNES, a documentação, seja pelo meio fotográfico ou através da ilustração, procura abolir a conotação espaço-temporal histórica do ato de documentação. Ou seja, essa documentação, ao revelar a construção da performance sobre o corpo cotidiano (do NUNES), não só se dá na medida em que se desenvolve o projeto mas é parte integrante e primordial deste.
 
Projeto NUNES se lança na direção contrária ao fenômeno de edificação de interfaces nas relações entre sujeitos e busca um contato mais direto com o estado das coisas.

Conheça o Nunes:

domingo, 15 de maio de 2011

PEQUENAS ESTÓRIAS IV . CAIU UM ANJO EM SÃO PAULO

Divindade rejeitada por um fatal movimento em falso, a perdição de um olhar. Perdido caio sem me aperceber. Num determinado momento estou a planar sobre pinheiros, no momento seguinte, inesperadamente, estou caído no chão.
 
Onde estão as minhas asas?
 
Das costas uivam rasgos de dor e, das omoplatas dilaceradas, escorre sangue.
 
Onde estou?
 
Devido ao choque da queda perco momentaneamente o norte. Confuso e dorido, procuro abrigo. Presente na memória só os seus olhos. Indefeso, cubro-me com o primeiro pedaço de tecido pendurado no estendal mais próximo (como se estivesse em Lisboa), e arrasto-me pelas ruas até chegar à Avenida Paulista. Desloco-me discretamente atento procurando entender a conversa alheia do casal que anda à minha frente, acelero o ritmo da passada. 

Oiço o que dizem mas não coincide com o que pensam. O espírito dele, jovem e indomável, confiante, percorre mentalmente as conquistas afectivas recentes enquanto os seus lábios proferem juras de amor. Ela sorri e acena ligeiramente com a cabeça na sua direcção, num gesto descontraído como se libertasse todo o peso que carregava no seu ombro.
 
Tenho de apagar da memória os seus tentadores olhos, aquele olhar. Tenho de encontrar um lugar sagrado para purificar a minha alma e prosseguir caminho. Estou perdido, não sei se esta é a direcção correcta. Oiço sinos de Igreja, devo estar perto, viro na Brigadeiro em direcção ao centro.
 
Os jovens casais a beijarem-se na calçada só me fazem recordar os seus volumosos e definidos lábios a aproximarem-se da minha testa, no sentido de confirmarem a tepidez da minha pele, comprimem-se suavemente. O seu olhar marcado de medo não escondia a emoção contida, o inalcançável amor transparecia no reflexo dos seus olhos.
 

Ajudou-me a erguer, cobriu o meu corpo amachucado com um lençol do estendal da casa da mãe, avisou-me: “cuidado com o escuro”. Ao virar-se na direcção do portão, oferecendo-me as costas, aperta-me o coração. Parte do que me mantinha vivo até então afastava-se para não mais voltar, eu disse: “tenho medo”. Ela, pela porta entreaberta, profere baixinho: “não é o fim”, fechando a porta.
 
Se ao menos voltasse a ser aceite, com as minhas asas, chegarei mais facilmente até ela, posso acompanha-la. Ansioso, acelero o passo, quero logo chegar. A Igreja estava fechada.

Filipe dos Santos Barrocas . 00:00 . 16 . 05 . 2011 . São Paulo

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MONTEMURO . FOTOGRAFIAS DE ISABEL CORREIA . MAIO DE 2010

sábado, 14 de maio de 2011

PEQUENAS ESTÓRIAS III . A EFÉMERA